Tanto mar entre nós... | H2omem
antes de ser potável fui chuva e orvalho
ates no capim,
estive no ipê e no carvalho
escorri por aí antes de ser rio
longe movi monjolos
e pás de moinhos
antes de ser potável fui musgo
fui lamaçal em cachoeira
no fundo das grotas fui redemoinho
a fome do bagre no barranco do rincão
no longo remanso fui leito de ribeirão
sou movimento, minério ancestral
mas antes de ser potável fui salobra,
mansa deslizei lentamente
e comi nos barrancos uns bocados
de terra nas beiras do rincão
sou potável, o sonho de ser oceano
do cântaro para mãos
o suor de quem trabalha
em terra firme naufrago ao contrário
se para o céu deserto aberto evaporo
nesse azul do sem fim sou praia ensolarada
do alto, molécula a retornar para ciclo da vida
sem nunca deixar de ser no éter breve eterna.
__________________________________________________________________
Publicado em Inominável nº 14
por Baltazar autor do blog Depois eu conta | BRASIL