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Revista Inominável

A revista para lá da blogosfera!

Seg | 16.05.16

Sim, era verdade.

Era verdade quando me diziam que bom, bom era ser criança. Era verdade quando me diziam que não devia ter pressa para ser adulto, que ser adulto era uma treta e era muito melhor ser criança. Era verdade quando me diziam que ser adulto implicava ter muitas responsabilidades. Sim, era verdade.

 

Mas não era verdade quando me diziam que quando fosse adulto não poderia brincar. Posso. As brincadeiras já não são as mesmas mas continuamos a poder brincar. Aquelas brincadeiras com carrinhos ou com Barbies voltamos a ter quando temos um filho, o objecto em si depende do gosto dele mas seja com o que for reavivamos a memória e sentimo-nos felizes, nostálgicos.


Não era verdade quando me diziam que tinha de aproveitar a escola ao máximo quando era criança porque em adulto já não ia conseguir aprender nada. Aprendo todos os dias uma coisa nova, seja sobre contabilidade, uma palavra nova noutra língua ou até mesmo a lidar com um certo tipo de pessoa ou com uma situação. Há sempre coisas a aprender e nunca estamos velhos – isto foi uma das coisas que percebi em adulta e todos os dias tenho vontade de aprender ainda mais.


Não era verdade quando me diziam que a lei da vida era Estudar – Namorar – Trabalhar – Casar – Ter Filhos para ser feliz. Sou feliz e a minha vida foi mais Estudar e Namorar – Ter Filhos – Trabalhar.

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São coisas que acontecem e foi a melhor coisa que me aconteceu. Como devem calcular, sou bastante feliz assim. Há dias maus, claro, mas isso todos temos.Não era verdade quando me diziam que só com uma licenciatura ou algo mais alto é que iria conseguir emprego. Nem o 12º ano tenho concluído, e em pouco mais de um mês de procura arranjei emprego; como era em part-time, quando quis arranjar um segundo emprego arranjei-o em duas semanas. O meu irmão esteve quase dois anos à procura de emprego e já tinha a licenciatura tirada quando começou a procura, e digamos que a nota que teve não é nada má, o curso é dos que supostamente mais empregabilidade tem e a universidade é das melhores do país. Por isso, ter a licenciatura ou um grau académico mais elevado pode ajudar em alguns casos, mas nem sempre é o principal.

 

Não era verdade quando me diziam que devia falar sempre que achasse que algo não estivesse correcto. Há alturas em que mais vale ficarmos calados e fingirmos que não se passa nada, para não sairmos prejudicados de forma directa ou indirecta. Se não conseguirmos de forma alguma ignorar o que se passa, temos bom remédio: quem está mal, muda-se. Não era verdade quando me diziam que bastava querer e lutar para conseguir tudo o que queria, tudo o que sonhava. Pode haver casos que se consegue apenas por mérito próprio, mas agora entre adultos podemos ser sinceros, quem tem cunhas tem a vida muito mais facilitada e por vezes nada faz para conseguir o que muitos também tanto desejam e pelo qual trabalham durante anos sem ver resultado algum.

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E sim, também era verdade quando me diziam que só quando crescesse é que ia perceber o que era ter problemas a sério e perceber qual era a razão de tanta preocupação por parte dos adultos; muito sinceramente, preferia voltar ao tempo em que não fazia ideia do que se passava lá fora no mundo dos adultos e em que problema sério era a mãe chegar a casa e ver que tínhamos estado a jogar à bola dentro de casa ao encontrar algum objecto partido. Era tão bom ser criança. Era tão bom poder recuar nos anos e voltar a viver tudo de novo, com a única diferença de aproveitar ainda mais a infância que tive.

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Publicado em Inominável nº 3
por A Miúda, autora do blog A Miuda