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Revista Inominável

A revista para lá da blogosfera!

Sab | 26.03.16

O Capuchinho Azul-Mirtilo #2

Na manhã seguinte, quando chegou à escola, o caos estava instalado junto à porta da sala de aulas.

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Todos tapavam os narizes e queixavam-se do cheiro horrível que empestara o ar, sem qualquer explicação.

- Que pivete! - queixavam-se uns. 

- Cheira a chulé e cebolas podres! - diziam outros.

Durante a aula todos permaneceram com as caras tapadas, tal era o cheirete que pairava no ar. Ana olhou para a Tina Rabina e viu-a muito cabisbaixa, olhos postos no chão e as bochechas vermelhas como dois tomates insuflados, e suspeitou que ela era a responsável pelo cheirete misterioso.

 

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Nessa noite, Ana observava as estrelas da janela do seu quarto e interrogava-se sobre onde andaria a sua capa azul mirtilo. Se estaria sozinha, suja e molhada, esquecida numa poça de lama qualquer e sem nenhuma menina para aquecer. Foi então que ela viu um vulto no jardim. Alguém que lhe acenou, lá de baixo, e então pôde ver que se tratava da Tina Rabina. “Mas o que está ela aqui a fazer?” - interrogou-se a Ana, que desceu imediatamente ao encontro da rapariga mais terrível da sua turma.

Quando chegou ao pé dela viu-a de lágrimas nos olhos. Curiosamente, trazia consigo o pivete a chulé e cebolas podres.
- Vim devolver-te algo que te tirei, sem pedir licença. - disse a Tina Rabina - Uma coisa que eu queria muito para mim, mas que não me pertence. - Nisto, abriu a mochila e tirou a capa azul mirtilo que quase voou para os ombros da Ana, de onde nunca devia ter saído.

 

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Ao vê-la, o coração da Ana encheu-se de alegria e felicidade.

- A minha capa! Tive tantas saudades dela! - exclamou, afagando o rosto na lã fofa tecida pela tribo das neves.

- Eu não aguento mais o cheiro horrível que ela emana desde que a tomei para mim. Nem a tristeza e culpa que ela me faz sentir todas as vezes que lhe toco. Queria usá-la, queria sentir o cheiro a bosque, chuva e frutos silvestres, mas não consigo! Além disso, pica-me as costas e deixa-me cheia de comichão e borbulhas na pele! Porque ela não é minha, nem quer ser. Ela quer voltar para ti! - desabafou a Tina Rabina, desabando num pranto de arrependimento.

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A Ana estava muito contente por rever a sua capa, que aos poucos ia retomando o seu perfume original, mas não conseguia ficar feliz perante a infelicidade da Tina Rabina. Nunca a tinha visto chorar, antes! Então, pegou-lhe na mão, sorriu-lhe, e convidou-a para um chocolatequente em sua casa. A Tina Rabina ficou muito espantada. Nunca a tinham convidado para um chocolate quente, nem para nada que fosse!

Foi então que, naquela noite, a menina doce da capa mágica que a todos encantava e a menina insuportável que transformava arco-íris em borrões tristes e indefinidos, se sentaram lado a lado, a rir, a conversar e a viajar por terras mágicas nunca antes visitadas através da capa azul mirtilo, que nesta noite tinha um brilho especial apenas por voltar ao lugar onde pertencia.

 

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Publicado em Inominável nº 2
por  Marta A. autora do blog Um dia acabo o Livro