Qua | 14.11.18 Diversidades | Por terras do Oeste Cisterciense #2 (continuação)Só na segunda metade do século XVIII, durante o abaciato de Frei Manuel Mendonça, (primo do Marquês de Pombal), se retomam as antigas tradições dos Beneditinos, numa última tentativa de recuperação. O Mosteiro de Alcobaça conseguiu, até certo ponto e com grandes dificuldades, fazer prevalecer as suas tradições culturais e agrícolas, mas todo o seu poder acabou por terminar, através de decreto de D. Maria II, em 28 de Maio de 1833.A história de toda a região de Alcobaça é, pois, indissociável da presença, durante quase setecentos anos, da Ordem de Cister. Grande parte do antigo território dos Coutos pertence desde 1514 ao concelho de Alcobaça, que deve muito da sua herança, principalmente histórico/cultural e económica, a esta Ordem.Actualmente, nas imediações do Mosteiro desenvolvem-se obras de construção do designado “Parque Verde da Cidade”, uma nova centralidade que pretende proporcionar uma mudança significativa na vida dos alcobacenses e de quem visitar a cidade. Restituir o rio Alcoa à cidade, interceptando o património ambiental com o legado cisterciense – focado no uso criterioso e equipendente da água – é o principal objectivo desta estrutura de lazer, convívio e desporto simples e individual. De reter que durante a execução das obras, que ainda decorrem, foi “descoberta” uma estrutura em ruinas supostamente datada do período romano que poderá vir a engrandecer e valorizar ainda mais o Parque Verde. No entanto, este achado arqueológico foi sinalizado e tapado, estando os estudos complementares previstos para mais tarde. Alcobaça já tem alguns indícios de ocupação romana, encontrados na estação arqueológica de Parreitas – Bárrio. Os próprios marcos que delimitavam os Coutos de Alcobaça – comparando a sua localização actual com a indicada num mapa “datado” de 1791, e a crer que se trata de um marco genuíno – têm características semelhantes aos marcos miliários romanos.Já referi que os Monges de Cister foram autênticos conhecedores e gestores da água que os rodeava: antes de chegar ao mar, a água proveniente da nascente do rio Alcoa abastecia a cozinha do Mosteiro, irrigava os campos agrícolas e era controlada em obras de engenharia “hidráulica”. O rio era pois uma centralidade, e era gerido como bem precioso, sendo bem explorado, cuidado e tratado. Se o Parque Verde pretende devolver o rio à cidade, serão certamente também necessárias obras de requalificação em todo o percurso “urbano” do rio, já que nalguns sectores se sente a idade do mesmo. A revitalização que parece então anunciada passa também pela pedonalização de todo o Alcoa, constituindo estes 14 km um corredor acessível e único, pois pela primeira vez em Portugal uma estrutura do género ligará a nascente à foz de um rio. Na prática, trata-se de uma ligação/passadiço multimunicipal, entre Alcobaça e a Nazaré, e o que foi divulgado aponta para uma via pedonal, ciclável e com veículo eléctrico, que permitirá um turismo diferenciado e universal, respeitando a biodiversidade, e actividades múltiplas como o cicloturismo, os percursos pedestres, a observação de aves, ou simples acções em prol do ócio e do bem-estar sem sazonalidade definida.Como ideia final direi que todas as iniciativas que promovam a ligação Homem/Meio são de enaltecer: um território respeitador mas moderno, humanizado, com forte presença ambiental e de economia sustentável é meio caminho para ser atractivo, dinâmico e exemplar, e terá certamente, em cada um de nós, um patrono.__________________________________________________________________Publicado em Inominável nº 16por Eliseu Pimenta Siga-nos no Bloglovin Categorias:artigosdiversidades link comentar favorito