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Revista Inominável

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Sex | 15.06.18

Diversidades | Faróis ConVida #3

(continuação)

O Farol do Cabo de São Vicente destaca-se pela sua importância geoestratégica – edificado no ponto mais a sudoeste do continente europeu – e pelo facto de possuir um dos maiores aparelhos ópticos do mundo (o maior dos faróis portugueses), que permite emitir luz visível até 32 milhas (cerca de 59 km).

 

Ter-se-á iniciado em 1515 no convento de S. Vicente a construção de uma torre onde se acendeu uma luz, provavelmente uma fogueira ocasional mantida pelos religiosos que ali viviam para servir de guia aos navegantes, relevando a importância deste local.

Após destruição em 1587 foram várias as tentativas de reconstrução, nunca definitivamente concluídas. O farol de São Vicente, tal como hoje o conhecemos, foi mandado construir por ordem de D. Maria II, em 1846. Em 1908 a torre foi alteada em 5,70 metros. Até aos nossos dias o farol de S. Vicente continuou a ser modernizado: em 1914 foi-lhe instalado um sinal de nevoeiro; em 1926 o farol foi electrificado; e 21 anos mais tarde foi dotado de painéis aero-marítimos. Em 1982 foi equipado com diversos automatismos, passando o funcionamento do farol de Sagres a ser controlado à distância.

Farol Sagres.jpg

Trata-se de uma torre cilíndrica em cantaria, com edifício anexo, inserida na antiga fortaleza, uma construção do século XVI. A lanterna e o varandim são de cor vermelha. A sua altura é de 28 metros, para uma altitude de 86 metros acima do nível médio das águas do mar.

Para além dos faróis referidos, todos os restantes mereceriam destaque, pois são importantes na orientação e sinalização de terra. No entanto, há um que me merece especial menção, pois sempre me acompanhou “à distância” desde que tenho memória: o farol da Berlenga.

O farol da Berlenga, com o nome próprio de Duque de Bragança, entrou no activo em 1842. De início foram utilizados o azeite e depois o petróleo, até que em 1926 foi electrificado. É automático desde 1985 e a partir de 2000, conjuntamente com as residências, funciona a energia solar, o que mereceu o Prémio Defesa Nacional e Ambiente.

Berlenga .JPG
Berlenga, avistada da Serra dos Candeeiros

Em linha recta, a Berlenga, ilha ao largo de Peniche, dista 45 km do local onde nasci e cresci. Se é possível avistar a ilha “à vista desarmada” com boas condições climatéricas, já o farol é quase uma impossibilidade. No entanto, quando a noite aconchega a terra, o farol torna-se visível no meio do nada.

Recordo-me de o olhar, vezes sem fim, noites incontáveis e de imaginar a azáfama que seria ter de manter, todas as noites, aquela luz sempre viva e por períodos tão perfeitos e inalteráveis: três relâmpagos consecutivos num curto espaço de tempo que, de olhos fechados e nariz contra um vidro de uma janela “virada pró mar”, tentava acertar na altura exacta em que o farol brilhava. Algum treino depois sentia-me a linha avançada do farol em terra, tal era a precisão e simultaneidade que comungávamos. Outra característica que me fascinava era o facto de “ele” estar sempre presente, noite após noite, ano após ano. O farol nunca se apagou… mesmo quando tudo ficava escuro, mesmo quando tudo se apagava, o farol, brilhante, estava lá!

Farol Berlenga.jpg
Farol de Berlenga visto de Peniche

Não são, pois, só as características técnicas ou funcionais do farol da Berlenga que me cativam (construção cravada no ponto mais alto de um maciço granítico, com torre quadrangular de 29 metros de altura feita em alvenaria branca, com edifícios anexos e lanterna e varandim vermelhos, e a funcionar actualmente a painéis fotovoltaicos). O que me detém é o seu sentido de presença, é o efeito que a sua luz produz na escuridão, é o efeito de protecção que transmite a quem necessita de orientação.

Todos os faróis acabam por ter esta missão e certamente cada um de nós terá o “seu” farol, ou será o farol de alguém. Tal como o uso das calculadoras científicas não dispensa o utilizador de dominar a aritmética, os sistemas de comunicação super evoluídos e inteligentes não irão ocupar e desajustar a função de um farol. Se um dia tudo falhar, eles estarão lá. Vigilantes, solitários, muitas vezes esquecidos e abandonados, mas sempre soberanos, autónomos, influentes e fascinantes.

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Publicado em Inominável nº 14

por Eliseu Pimenta

 

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