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Ter | 28.08.18

Diversidades | Do pensamento elástico aos estáticos extremos de Portugal #2

Extremo Sul

O cabo de Santa Maria, no concelho de Faro, é o ponto mais a sul de Portugal Continental e é constituído por um ponto na curva da praia na ilha da Barreta, que também tem o nome de ilha do Cabo de Santa Maria ou ilha Deserta. Com uma latitude de 36° 57’ 37.05’’ N e longitude 7° 53’ 13.66’’ W / 36.960292, -7.887128 dista, numa medição recta sobre o Google Earth, 577 Km do ponto mais setentrional.

Concordo com a ideia de que se perguntarmos à maioria das pessoas qual o ponto mais meridional de Portugal, a resposta será o Cabo de Sagres, pese o facto de o cabo de Santa Maria se localizar num dos parques naturais mais visitados do país: o da Ria Formosa.

O Cabo de Sagres, carregado de misticismo e eternamente ligado à epopeia marítima portuguesa, é de visita obrigatória, tal como o Cabo de São Vicente ou os muitos e variados retalhos da costa algarvia que nos presenteiam com vistas fabulosas e locais de sonho. No entanto, é o Cabo de Santa Maria e a sua praia deserta que nos mostram um algarve despido, natural e apelativo, bem longe do surto imobiliário que por estas bandas massifica o solo.

Originalmente, o cabo localizava-se na Ilha do Cabo de Santa Maria, mas a abertura do canal da Barra Nova para acesso dos portos de Olhão e Faro dividiu a ilha em duas – Culatra e Barreta.

A Culatra faz parte do conjunto-barreira de ilhas que demarcam a ria Formosa. Possui três núcleos populacionais e alguns quilómetros de praia, ocupados principalmente por veraneantes. Destaca-se em altura o branco farol que vigia toda a ria. Já a Barreta, onde se localiza o Cabo, habitualmente designada Deserta, é essencialmente uma reserva natural desabitada – as únicas construções são meros refúgios triangulares construídos integralmente em madeira, pertencentes a pescadores – e integra uma praia de areias finas e pálidas.

Ao contrário de Cevide, não é possível encontrar um marco ou uma referência geográfica, o que não seria totalmente descabido. Por vezes, sítios ou lugares com alguma particularidade permanecem anónimos e desconhecidos para quem os cruza por manifesta falta de informação ou desleixe autárquico.

Com acesso apenas por barco, o cabo de Santa Maria não é mais que um naco curvo de areia a indicar o sul. Simples e brilhante, a mordiscar em toques ondulados e suaves as águas quentes e cristalinas, esta casa de ninguém oferece-nos uma experiência quase magrebina, rodeados de aves migratórias, envoltos por um calor sempre presente e pelo cheiro do açafrão-da-terra marroquino, ali, na primeira onda do caminho.

(continua)

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Publicado em Inominável nº 15

por Eliseu Pimenta

Diversidades | Do pensamento elástico aos estáticos extremos de Portugal #2

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