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Revista Inominável

A revista para lá da blogosfera!

Seg | 17.09.18

Animais & Mais | Reforço positivo versus TV Show – A queda de um encanto (1)

 

Quando falo em treino ou adestramento de cães (ou até outros animais) as pessoas sorriem e dizem que já sabem do que falo e nomeiam-me logo o “Cesar Millan”, o homem que se auto designa como “encantador de cães”. Nada me consegue pôr mais furiosa do que isso!!!! Chego a ficar com os cabelos e pêlos em pé e pele de galinha!!!! Julgo que até se vê a sair fumo da minha cabeça!!!

 

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O senhor até pode ter algum jeito para cães, não sei, apenas sei que aquele programa é um show para lhe dar clientela e um risco elevado para quem tenta, erradamente, aplicar a sua metologia, mais do que discutível, nos seus animais!

 

Sei também aquilo que vejo, e esticar a trela no pescoço dos cães para eles não puxarem a mesma, e ir dando “trancadas” com os pés no flanco do animal não é de todo uma técnica que eu almejo aplicar a um animal de que eu gosto. E o Senhor Cesar Millan é profícuo em aplicar técnicas que de alguma forma magoam o animal e não são positivas.

 

A verdade é que vale a pena ouvir os especialistas em psicologia e comportamento canino mais credenciados e com experiência, tais como Ian Dunbar, ou Karen Pryor, e até a nossa portuguesa Claudia Estanislau (façam uma pesquisa sobre eles e ouçam/leiam um pouco do que falam).

 

É certo que, até começarmos a ler, a ouvir, e a ver mais sobre esta matéria “treino ou adestramento canino”, quem até foi confesso admirador do “encantador de cães”, Cesar Millan, passará pelo sentimento de desilusão ao perceber que o exemplo de uma das referências de muitos não deve, de todo, ser seguido!

 

Atualmente, e com todos os estudos e experiências realizados, a nova doutrina sobre comportamento e treino canino assenta no reforço positivo. Contrária ao castigo positivo (punição positiva) aplicado por Cesar Millan, que nada mais é do que a aplicação de um estímulo desagradável sempre que surge um comportamento que se destina a ser eliminado ou reduzido.

 

E o que é isto de reforço positivo?

 

Para já, convém dizer que existe a rejeição de tudo o que possa ser desagradável para o animal, mesmo que uma leve palmada, ou até ou o simples levantar do jornal (isso é um indutor de medo) ou até uma borrifadela de água, que pode à priori parecer inócua. E se queremos mudar ou introduzir um determinado comportamento, o cão (neste caso) é estimulado através de recompensas, tais como, biscoitos, festas, dar uma bola, o que resultar melhor para o animal em questão.

 

E agora os mais céticos e aguerridos defensores do senhor, cujo nome não vou voltar a pronunciar (J) dirão: mas se até existiu a tal mudança de comportamento ao ser executado isso de levantar o jornal, ou dar uma palmada no focinho, ou um toque no flanco, ou sei lá mais o quê… É verdade, sim senhor, que se pode suprimir um comportamento, mas além de não resolver as suas causas pode até degenerar num aumento da agressividade canina, ou o contrário, termos um cão com personalidade desequilibrada e medricas. Além disso, cá entre nós, acham mesmo que amedrontar e punir é a melhor forma de educar?

 

E só estou a falar de animais, hã?

 

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Existe outra vertente no show daquele cujo nome não desejo pronunciar: ele adota invariavelmente o mesmo método para lidar com problemas comportamentais, esquecendo que muitos deles até podem esconder um determinado problema de saúde. Isto para não falar da sua mais que obsoleta teoria da dominância! Os cães de hoje não têm comportamentos de alcateias e matilhas, onde existe o líder e todos têm de ser subjugados! Conceitos muito usados, como “submissão” ou “dominância”, que parece que não saem da cabeça das pessoas - qual caspa entranhada resistente a qualquer tipo de shampoo! - não servem para explicar o comportamento canino e até levam muitos donos a adotar uma postura autoritária ou até agressiva, pensando que estão a transmitir (e que devem fazê-lo) aos seus patudos a ideia de que são eles o líder da matilha.

 

O conceito de ensinar um cão com recompensa versus castigo é amplamente conhecido, chega até a ser intuitivo; se o cão é recompensado por fazer algo, esperamos que ele perceba que é para fazê-lo! E se, ao contrário, o cão é castigado por fazer outra coisa que não queremos, é certo que após o castigo ele até não volte a ter o dito comportamento “mau”!

 

E sabendo que na maioria das vezes em que pensamos em “treinar” o nosso patudo estamos, na realidade, a querer eliminar determinados comportamentos, este conceito é tremendamente redutor! Aprender, e em alguns casos “desaprender”, é um processo, não é uma transformação imediata que acontece só com uma nova e única associação entre comportamento-consequência! Não existem encantamentos nem magias neste âmbito dos comportamentos, mesmo dos nossos amigos animais, os tais ditos irracionais!

 

(continua)

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Publicado em Inominável nº 15

por Golimix autora do blog Eu tento, mas meu tento não consegue