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Revista Inominável

A revista para lá da blogosfera!

Sex | 18.05.18

Anexo | Descontos e outras tentações

O coração bate mais forte, o sorriso abre, em alguns casos um grito. Quem não sentiu ainda a felicidade de encontrar um ou mais livros da lista de desejos em promoção? Seja desconto directo, em cartão, saldos, feira do livro ou leilão de usados, para o leitor viciado é dia de festa. Dá vontade de contar a toda a gente, partilhar com os amigos, fazer inveja nas redes sociais. E aquele livro baratinho, baratinho, quase descontinuado, do autor favorito, muito difícil de encontrar? Melhor ainda do que promoção, certo?

Pois é, pequenas coisas que só quem ama os livros entende. Mas será que, mesmo assim, ama os livros o suficiente? Ou ama mais aquele que respeita o preço de editor e prefere construir a sua biblioteca comprando numa livraria independente? É só pensar um pouco. Queremos um futuro onde os livros serão exclusivos das grandes superfícies? Um mundo sem a opinião do livreiro? Sem aquela conversa deliciosa de quem, como nós, quer ler e conhecer sempre mais?

O futuro não tem livrarias. Conseguem viver com isso?

Claro que todos já comprámos livros em hipermercados, mas conseguem imaginar não ter opção? Ficar uma eternidade à espera que apareça o funcionário para fazer uma pergunta, e depois de finalmente lhe falarmos, ele (ou ela) olha-nos como se fôssemos seres de outro planeta com linguagem encriptada? É um pouco melhor nas redes de livrarias, mas conto pelos (meus) dedos as vezes em que havia um verdadeiro livreiro atrás do balcão. Acreditem que me sobram muitos dedos.

É o sistema e as coisas são assim, podem dizer-me. Eu ganho mal e os livros são caros, tenho de aproveitar os descontos, sei que o estão a pensar. E entendo, acreditem. Mas somos nós, leitores que podemos mudar alguma coisa. São as nossas escolhas que podem fazer alguma diferença. Comprar livros onde eles devem ser vendidos é também respeitar os autores.

Sabem aquela livraria da minha infância? Já fechou. Era um espaço pitoresco com enormes estantes de madeira que cheiravam a óleo de cedro. A livreira estava sempre atrás de uns óculos (muito) graduados e parecia que toda a gente aparecia lá para lhe cortar a leitura (quem consegue não rir com esta situação?). Podíamos passear as mãos pelas prateleiras recheadas, fazer uma pilha e ler um pouco de cada livro até decidir, tudo ao som de música clássica, sentados numa poltrona.

Hoje é um bar. Fico triste quando passo por lá.

Anexo imagem #13.jpg

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Publicado em Inominável nº 13

por  Márcia Balsas  autora do blog  Planeta Marcia

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