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Revista Inominável

A revista para lá da blogosfera!

Sex | 20.01.17

A Guerra das Consolas

Até os mais optimistas admitirão que o ser humano é das criaturas mais monstruosas à face da Terra. Acho estranhíssimo que nos filmes de fantasia sejam sempre os humanos a fugir do dragão em vez de ser o contrário, tendo em conta a reputação violenta que os humanos deveriam ter. Por exemplo, já ninguém se surpreende quando mais uma guerra qualquer começa, seja entre estados independentes, seja uma guerra civil ou religiosa ou seja o que for.

 

Resumidamente, andar à porrada sobre coisas supérfluas aparenta estar-nos geneticamente predisposto. Felizmente, nem todas as guerras se travam com armas, mas nem por isso deixam de ser violentas. No mundo dos videojogos, um exemplo de um conflito desse tipo é a Guerra das Consolas.

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(Antes que penseis que estou a falar a sério,
faço notar que esta guerra é uma espécie de piada na Internet,
como decerto tereis compreendido.)

 

Eu mantenho-me relativamente informado sobre o mundo dos videojogos, mas não posso partir do princípio que todas as pessoas em todas as faixas etárias o façam também.
Este artigo tem um objectivo (quase) puramente informativo, sendo que eu gostaria de introduzir alguma cultura geral sobre um tema que, se provavelmente não é interessante nem novo para quem não é um leigo, pode ser útil para um progenitor que não compreenda a reacção de desapontamento do seu descendente quando este vê que recebe uma Xbox no Natal em vez de uma Playstation, ou vice-versa.
"Mas não são exactamente a mesma coisa?"
Bom... sim e não. Vou tentar ser o mais lacónico possível, pois este não é um assunto particularmente fácil de explicar. Ou não para mim, pelo menos.

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Olhemos para o campo de batalha. No centro dele estão recursos preciosos, chamados "consumidores", que todos os beligerantes, ou fabricantes de consolas, almejam gananciosamente possuir. Cada facção tenta obter o máximo número de consumidores possível, usando todo o tipo de estratagemas para o conseguir. Por exemplo, certas consolas têm videojogos exclusivos que nenhuma outra tem, implicando que se um utilizador quiser jogar esse videojogo específico, terá obrigatoriamente de ter essa consola.
O factor principal de decisão para um consumidor (ou pelo menos o mais discutido) aparenta ser a capacidade de processamento de cada equipamento. Analogamente falando, o quão bom o motor da máquina é. O problema é que o mesmo jogo em consolas diferentes é visualmente muito parecido, com apenas subtis diferenças no desempenho. Para mim, estes factores não seriam suficientemente relevantes para andar a discutir com pessoas anónimas em fóruns.
No entanto...
"Ah, a PlayStation mostra mais 10 píxeis que a Xbox!"
"Ah, a Xbox tem aquele jogo exclusivo!"

 

Para alguém que seja de fora deve parecer muito peculiar toda a futilidade de uma pessoa se enervar por causa de umas caixas de plástico com electrónica oriental lá dentro. Nesse aspecto, eu concordaria, pois considero-me "alguém de fora" porque não tenho uma consola de oitava geração. Sim, já vamos na oitava, estas guerras já vêm desde os anos 80. Mal comparando a coisa, sou como um alemão que tenha nascido no início da Guerra dos Trinta Anos.
Qualquer pessoa com um mínimo de noção de como o mundo funciona já terá percebido que o que eu tenho estado a descrever não é em nada dessemelhante de qualquer rivalidade comercial entre marcas doutros produtos normais, tipo champôs ou jornais ou carros. A grande diferença, repito, é que são os próprios consumidores a fomentar a guerra (se o fazem por brincadeira ou não, isso já não sei).
É tipo o futebol. Claques diferentes vestem-se de cores diferentes e imediatamente a reputação de milhares de mães portuguesas é questionada e a legitimidade dos pais deitada abaixo por gestos bovinos. Depois começam as cadeiras a voar, sem razão absolutamente alguma.

 

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O mesmo não acontece na Guerra das Consolas porque é certo e sabido que os totozinhos que jogam videojogos não saem de casa, impossibilitando o contacto físico. No máximo, se enraivecidos, catapultam o objecto mais próximo deles numa direcção aleatória enquanto gritam com o familiar ingénuo que foi perguntar o que raio se passava e porque carga d'água estava o cão em cima do armário.

 

Se ainda se lembrarem, é tipo aquele vídeo do puto alemão a berrar maniacamente para o computador.
Para concluir, sabeis agora que existe uma guerra invisível a decorrer nas veias corruptas da Internet. É perfeitamente possível que o vosso filho totó (ou outro familiar masculino) esteja a lutar por um dos lados do conflito. Consequentemente, se estiverdes a planear surpreendê-lo com uma consola nova, tentai em primeiro lugar perceber (pelos vossos próprios métodos) que tipo de facção ele defende, se alguma.
Na pior das hipóteses, ele poderá ser algo bem mais nefasto: poderá pertencer ao culto sobranceiro da chamada "Raça Mestre PC", uma minoria elitista e eugénica no mundo dos consumidores de videojogos. Mas essa será outra história.

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Publicado em Inominável nº 5
por Rei Bacalhau que participa no blog O Bom, o Mau e o Feio