Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Revista Inominável

A revista para lá da blogosfera!

Seg | 07.03.16

Correio (pouco) Sentimental... a pergunta

Olá minhas queridas conselheiras.


Escrevo-vos de coração nas mãos. Ontem à noite estava no sofá junto ao meu marido e algo aconteceu. Ao princípio parecia um serão como todos os outros, no nosso lar feliz: a televisão ligada para os dois, só para fazer ruído, ele a jogar no iPad, eu a conversar com as amigas no chat do Facebook, no telemóvel. Perfeita harmonia, está bom de se ver.


Eis senão quando ele faz uma sugestão meio louca: vamos largar isto e fazer alguma coisa juntos? Diz-me ele, com desfaçatez, quebrando assim a nossa rotina de Domingo à noite como se nada fosse. Em todo o caso, eu sou uma aventureira – já fui mais – e portanto assenti. A primeira ideia foi que víssemos juntos um episódio de uma série. É difícil encontrar uma. Ele resiste sempre a ver reposições da Clínica Privada e eu abomino aquela série dos mortos-vivos que ele adora.


Já estava mesmo a ver aquilo a dar em discussão e nós sabemos que a comunicação nestes casos é essencial numa relação... portanto ele foi ligar à mãe para se aconselhar e eu recorri ao chat e desabafei com as minhas amigas. Ainda por cima o Dia dos Namorados está aí à porta e é sempre um dia que corre muito mal para nós. Há dois anos ele deu-me uma prenda e eu não tinha nada para ele porque achei que já estávamos casados e já não fazia sentido – fiquei horrorizada, a sentir-me pessimamente e chateei-me muito com ele por não ter em conta os meus sentimentos. No ano passado, não querendo cair no mesmo erro comprei-lhe uma boa prenda e ele dessa vez não me deu nada – fiquei horrorizada, a sentir-me pessimamente e chateei-me muito com ele por não ter em conta os meus sentimentos.
Portanto dizia eu que usámos a comunicação para tentar resolver aquele pequeno imbróglio da série a ver. A mãe dele disse-lhe que lá em casa quem mandava no comando era o pai, como devia ser, e que não sabia que raio de casa era a nossa, um ninho de anarquia. Que ele tinha arranjado uma esposa feminista e cheia de liberdades. As minhas amigas sugeriram o The Good Wife. Como a série que eles sugeriram, pelo menos pelo título, parecia estar em sintonia com o conselho da mãe dele avançámos mesmo para essa.


Fiz pipocas, instalámo-nos debaixo de uma mantinha e pusemos a série a dar. Aparentemente ele estava aborrecido de morte com a série, mas estar debaixo da mantinha comigo deu-lhe genica. E diz-me assim “ Preferia estar a dançar contigo.” ao que eu respondo “Mas tu nem gostas de dançar!”. Então ele vira-se para mim – custa-me descrever isto – e diz com um ar guloso e olhos faiscantes: "Dançava contigo, mas era na horizontal..."


Levantei-me de repente. Não podia acreditar no que ele tinha acabado de fazer. Não sou ignorante, ouvi falar da nova lei dos piropos e sei que este tinha conotação sexual. As paredes da casa são finas e ocas, ouve-se tudo o que os vizinhos dizem e ele não falou particularmente baixo, pelo que temo que também o tenham ouvido.


O que faço? Será que ele vai ser condenado? É que se este ano o Dia dos Namorados for celebrado apenas com uma visita na prisão, creio que será ainda pior que os outros... até porque duvido que ele me consiga comprar lá uma prenda...

 

(resposta amanhã)

______________________________________________________________________

Publicado em Inominável nº 2
pelas nossas consultoras Maria das Palavras autora dos blogs Maria das Palavras e Consultório de Prendas.  e M.J. autora do blog E agora? Sei lá!
Ambas participam no blog Aprender uma coisa nova por dia

Siga-nos no Bloglovin